Halloween

O Halloween é uma festa que surgiu de um festival muito tradicional dos celtas e que ao longo dos séculos foi sendo influenciado pelo cristianismo.
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O Halloween é uma festa muito popular dos Estados Unidos que surgiu nas Ilhas Britânicas e é derivada de um festival realizado pelos celtas na antiguidade. Durante essa festa, que se realiza em 31 de outubro, as crianças se fantasiam de monstros e saem as ruas pedindo doces para as pessoas. Aqui no Brasil essa festa tem se tornado cada vez mais comum devido à influência da cultura norte-americana e da internet.

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Qual é a origem do Halloween?

Os historiadores atribuem que o Halloween foi resultado da mistura de traços de uma cultura religiosa pagã e cristã. A origem pagã do Halloween está relacionado com o Samhain, um festival dedicado a colheita e aos mortos praticados pelos celtas na antiguidade. Os celtas eram um povo que habitava as Ilhas Britânicas, além de parte da Península Ibérica e da Europa Central.

O Samhain era um dos festivais mais importantes realizados por esse povo e acontecia na passagem de 31 de outubro para 1º de novembro, celebrando a colheita realizada, assim como, prestava homenagem para os mortos. O Samhain era um momento de transição para os celtas pois era nesse momento que se encerrava um ano e outro se iniciava.

O Halloween é derivado de um festival realizado pelos celtas, habitantes das Ilhas Britânicas na antiguidade. [1]
O Halloween é derivado de um festival realizado pelos celtas, habitantes das Ilhas Britânicas na antiguidade. [1]

O Samhain para os celtas era um momento de celebração por conta da colheita que tinha sido realizada e que os sustentaria durante o longo inverno que estava se aproximando. Isso era celebrado com grandes festas, mas além disso, o Samhain era um momento importante da visão de mundo celta, pois eles acreditavam que durante o festival, os limites que existiam entre o mundo real e o mundo sobrenatural deixavam de existir.

Assim, os celtas acreditavam que durante o Samhain, os mortos do último ano vagariam pela terra para visitar os locais que viveram e rever seus familiares. Além dos mortos, os celtas que acreditam que outros seres sobrenaturais, incluindo espíritos malignos vagariam pela terra, afinal, os limites entre o mundo real e o sobrenatural estavam suspensos.

Por conta do festival, as pessoas iluminavam as vilas e os caminhos com lanternas e fogueiras eram acessas para afastar os maus espíritos. As pessoas andavam nas ruas usando máscaras e disfarces para evitar de ser reconhecidas pelos espíritos malignos. Outra forma de afastar os espíritos malignos era esculpir rostos macabros em nabos.

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Influência cristã

O Halloween é uma festa que surgiu a partir de traços de uma cultura pagã, mas o cristianismo que foi enraizado nas Ilhas Britânicas ao longo da Idade Média também teve sua influência para o surgimento dessa festa. Isso porque quando a Igreja Católica começou a difundir o cristianismo pela Europa, uma das estratégias utilizadas foi a de se apropriar de características de cultura pagã e torná-las cristãs.

A data que se comemorava o Samhain foi apropriada pela Igreja e transformada no Dia de Todos os Santos. [2]
A data que se comemorava o Samhain foi apropriada pela Igreja e transformada no Dia de Todos os Santos. [2]

Assim, como mencionou a antropóloga Wendy Fonarow, a Igreja começou a afirmar que a festa dos mortos celtas (Samhain) não era para mortos comuns, mas sim, para os santos da Igreja|1|. Essa ressignificação das culturas locais não aconteceu somente nas Ilhas Britânicas, mas em todo o continente europeu.

No caso britânico, a coisa se iniciou com uma medida tomada durante a Idade Média, especificamente no século VIII, pelo papa Gregório III. Esse papa decidiu que o dia 1º de novembro seria dedicado para celebrar o Dia de Todos os Santos, um dia dedicado a veneração dos santos que morreram. Essa decisão de Gregório III era exclusiva a diocese de Roma.

Algumas décadas depois, o papa Gregório IV decidiu estender a medida para toda a cristandade. Assim, o dia 1º de novembro começou a consolidar-se como o All Saints’ Day, como é conhecido o Dia de Todos os Santos em inglês. Antes da decisão de Gregório III, o Dia de Todos os Santos era comemorada em maio na data que era realizado um antigo festival romano.

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Os historiadores não sabem se a medida foi realizada propositalmente para combater a influência do Samhain, mas de toda forma, por meio dela se consolidou um período de comemorações cristãs nas Ilhas Britânicas conhecidos como Allhallowtide. Esse período estendia-se de 31 de outubro a 2 de novembro e tinha três comemorações.

As comemorações que marcam o Allhallowtide demoraram alguns séculos a se consolidar, tanto que só no século XIV são encontrados registros que fazem menção ao período em nomenclatura parecida a que citamos. As três comemorações do período eram:

  1. All Hallow’s Eve – comemorado em 31 de outubro como a véspera do Dia de Todos os Santos.

  2. All Saints’ Day – comemorado em 1º de novembro como Dia de Todos os Santos. Era uma data de veneração aos santos da Igreja.

  3. All Souls’ Day – comemorado em 2 de novembro como Dia de Finados. Data dedicada a oração dos fiéis da Igreja e daqueles que estavam no purgatório.

Mesmo com a consolidação do cristianismo nas Ilhas Britânicas, os traços da cultura tradicional pagã ficou marcado no inconsciente popular e, assim, uma série de práticas realizadas durante o Samhain foram transferidas para as celebrações que marcavam o Allhallowtide. Durante as comemorações cristãs, era comum que as pessoas ascendessem velas e fogueiras para afastar práticas entendidas como demoníacas, como a bruxaria, por exemplo.

Halloween chega aos EUA

O Halloween surgiu na Europa em algum momento da Idade Média ou Idade Moderna, mas essa prática só chegou aos Estados Unidos tardiamente. Foi no século XIX, com uma migração maciça de irlandeses é que o Halloween chegou aos Estados Unidos. Alguns historiadores dizem que a festa não existia nos EUA no período da colonização, enquanto que outros sugerem que ele existia, mas era extremamente limitada pela rigidez religiosa dos puritanos (calvinistas).

Com os irlandeses, elementos de sua cultura foram levados aos Estados Unidos e depois de um certo tempo acabaram ganhando fama e transformando-se numa das maiores comemorações daquele país. Atualmente, o Halloween é uma enorme festa que mobiliza em média 170 milhões de pessoas que gastam bilhões de dólares nela.

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Doces ou travessuras

O “trick or treat” (doces ou travessuras) é uma das principais características do Halloween moderno nos EUA.
O “trick or treat” (doces ou travessuras) é uma das principais características do Halloween moderno nos EUA.

Atualmente, o Halloween é uma comemoração secular, embora alguns grupos religiosos dos Estados Unidos ainda não gostem do Halloween. A festa resgatou elementos oriundos da festa pagã e os modernizou, sendo que um desses elementos é o “trick or treat”, conhecido aqui como “doces ou travessuras”.

Durante o Samhain, os celtas iam de porta em porta pedindo contribuições para que a festa pudesse ser realizada, além de serem pedidos também animais para os sacrifícios que eram exigidos pelos druidas, os sacerdotes religiosos dos celtas.

Séculos depois, os cristãos ressignificaram a prática e, assim, crianças começaram a visitar as casas durante o Allhallowtide para cantar canções ou fazer orações pelos fiéis que estavam no purgatório. Em troca elas recebiam um bolo conhecido em inglês como “soul cake” (aqui no Brasil não existe uma tradução específica do termo, mas em Portugal existe algo parecido e conhecido como “Pão-por-Deus”).

A partir da década de 1920, essa prática citada começou a ser resgatada nos Estados Unidos. Nela, crianças começaram a ir de casa em casa pedindo doces e caso não recebessem, realizariam alguma travessura. A frase dita por eles no momento que são atendidas e exatamente “trick or treat?”.

E a abóbora? De onde ela veio?

A abóbora se tornou um símbolo do Halloween a partir do século XIX.
A abóbora se tornou um símbolo do Halloween a partir do século XIX.

A abóbora utilizada no Halloween americana é uma adaptação de uma prática realizada pelos celtas na época. Como mencionamos, os celtas costumavam esculpir nabos com rostos macabros para afastar os maus espíritos. Além disso, existia uma prática de colocar uma lanterna dentro do nabo e essa prática era oriunda de uma lenda irlandesa chamada “Stingy Jack”.

Essa lenda fala de um irlandês chamado Jack que convidou o diabo para tomar uma bebida com ele. Ao final da bebedeira, ele convenceu o diabo a transformar-se em uma moeda para que pudesse pagar a conta. Depois de convencer o diabo, ele pegou a colocou próximo a uma cruz de prata, o que impediu que o diabo voltasse a sua forma normal.

Depois ele fez um acordo com o diabo para que pudesse se libertar da forma de moeda, mas tempos depois, Jack enganou novamente o diabo. Depois de ter morrido, Jack não foi aceito no céu por ter feito um trato com o diabo e também não foi aceito no inferno por ter engano o diabo por duas vezes.

Jack ficou condenado a vagar pela terra em meio a escuridão e para fazê-lo recebeu um nabo com um carvão em chamas que serviria para que ele pudesse iluminar seu caminho. Assim ficou conhecido como “Jack of the Lantern”, palavra que eventualmente se contraiu para “jack-o-lantern”. Essa é a expressão usada para referir às abóboras que são esculpidas atualmente.

A prática foi levada para os Estados Unidos pelos irlandeses, mas como lá havia uma grande quantidade de abóboras, as pessoas passaram a utilizar esse fruto em vez de nabos para esculpir rostos macabros e colocar suas lanternas.

Nota

|1| TheLipTV. The Halloween History You Don’t Know with Prof. Wendy Fonarow. Ancient History Encyclopedia. Para acessar, clique aqui [em inglês].

Crédito das imagens:

[1] Kinkku e Shutterstock

[2] Renata Sedmakova e Shutterstock

Por Daniel Neves Silva